No ano em que a Confraria Feminina do Vinho de Curitiba,
registra seu 12º ano de existência, um novo motivo, levou oito das onze
confreiras as terras gaúchas de Alto Feliz, Bento Gonçalves e Flores da Cunha,
para viver as experiências das vindimas, no vale dos vinhedos, desse estado,
rico em aromas e sabores e pelo orgulho do trabalho de seus filhos gentis.
Em 16/02/2017, as confreiras (esq p/ dir), Eunice Rocha, Mônica Meira, Analzira Carvalho Carneiro, Sandra Lunedo, Maria do Carmo Bado, Sueli Rita Floriani de Martínez, Sandra Zottis e Márcia Toccafondo, se encontraram no aeroporto Salgado Filho, prontas e animadas,
para viver quatro dias de visitas e conhecimento sobre a produção dos vinhos
desse vale.
A primeira vinícola foi a Don
Guerino, localizada na Rua dos Vinhedos, em Alto Feliz – RS. A família Motter, em 1880, trouxe a paixão
pelo vinho da Itália. O terroir da Don Guerino, apresenta um micro clima, com
exposição solar e boa ventilação, solos argilosos e profundos em um clima
naturalmente temperado. As uvas, que se transformam em vinho, são: Moscato
Branco, Giallo e Hamburgo, Chardonnay ,
Sauvignon Blanc e Riesling, entre as brancas. Tintas: Malbec,
Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat, Pinot Noir e pela primeira vez, nos
foi apresentada o vinho da uva Teroldego, essa que é típica de Trento na
Itália. Foi uma apresentação feliz. A confraria achou o nome da uva muito
interessante e se não todas, a maioria adquiriu garrafas de vinho dessa uva.
A vinícola Don Guerino comercializa
seus vinhos em algumas lojas do Mercado Municipal de Curitiba. Almoçamos no Sapore & Piacere
– Café Cucina I Altri, situado à Rua: Dr. Casagrande, 500 esq. Visconde São
Gabriel – Cidade Alta - Bento Gonçalves – RS. Um local adorável e com
apresentação de pratos coloridos, deliciosos, arrumados de tal forma, que nos
encheu o olho e o coração de mimos e agrados em meio a uma decoração muito
feminina e aconchegante. Ao final, fomos agraciadas com um bolo de especiarias,
maravilhoso.
À tarde, estávamos na vinícola
Miolo. O dia ensolarado em muito contribuiu para que desfrutássemos das
paisagens desse lindo lugar. A arquitetura, o spa, as pequenas colinas, o verde
abundante, que formam o complexo enoturístico da Miolo, nos transportaram para
algumas regiões italianas. A recepção sorridente e calorosa do nosso grande
amigo do vinho Avelino, tornou tudo próximo e familiar. Assim, fizemos parte de
um grupo seleto de privilegiados que foram conduzidos a conhecer e ver todo o
vale da Miolo, desde a alta torre, que faz parte do Complexo. Turistas não tem
acesso a esse lugar. As amantes da fotografia, se deleitaram. A família Miolo,
é de origem italiana, do Venêto e começaram a plantar uvas em 1897, apenas para
consumo e vendas da uva. Assim, o formato escolhido para abrigar as parreiras
foi a latada, que se mantém uma ali, como uma lembrança nostálgica dos tempos
que já passaram, mas que enche de charme o complexo Miolo.
A uva por
excelência, da vinícola Miolo é a Merlot. Porém, há plantações de várias outras
uvas e lá também está a Teroldego. A sala de degustação é maravilhosa, muito
bem iluminada e seus balcões estão dispostos em um semicírculo, tipo arena. Os andares que se elevam desde essa
distribuição, permite visão limpa e ninguém está na frente de ninguém.
Na Miolo,
provamos entre outros bons rótulos, o Lote 43, uma das grandes produções dessa
vinícola e fomos presenteadas com
uma bela taça de espumante grifada.
À noite, nos esperava com uma
experiência gastronômica absolutamente incrível. O Valle Rustico, www.vallerustico.com.br, é um desses
lugares, que você conhece e não esquece jamais. O menu degustação que varia de
8 a 12 pratos, nos foi servido na porção total e da qual fizemos questão de
provar e deliciar tudo! A imersão na Cozinha de Natureza, numa conexão Homem e
a amada Terra, a biodiversidade local, o relacionamento com produtores
orgânicos, resgate de técnicas antigas de preparo, o processo criativo,
utilizando somente o que a mãe terra tem para nós oferecer hoje! Diante dessa
perspectiva, nós deliciamos com: Grissini de polvilho, pão de alho, foccaccia e
espumante orgânico. Do mar: dourado do mar assado com Ora-pro-nóbis. O melhor
prato do verão? Risoto de tomates,
cozidos por 17hs no azeite de oliva. Sabor dos campos? - Cordeiro assado, com farofa de alho e chutney
de beterraba. Sobremesa: biscuit de erva mate, torta de amora e piem de doce de
leite, entre outras delícias. Na foto acima conosco, o chef Rodrigo Bellora proprietário do Valle Rustico Restaurante de Garibaldi.
No dia dezessete de fevereiro,
logo pela manhã estávamos na vinícola centenária Salton, localizada no distrito
de Tuiuti, pertencente a Bento Gonçalves. Tudo lá impressiona. O tamanho da
vinícola e suas instalações arquitetônicas. O prazer em registrar toda a
história da vinícola nas paredes seja na forma de quadros, tapeçarias tipo “Gobelains” ou em “tromp L’oil” no teto do
hall, onde registram a gratidão pela ancestralidade, os amigos, as famílias e
os empregados, todos unidos pela paixão
ao vinho. Muitos funcionários, trabalharam ou ainda estão na Salton, por uns
40 anos. A Salton, foi fundada em 1878 .É
uma das vinícolas mais antigas do Brasil. São os produtores do Conhaque
Presidente, que é produzido e comercializado em São Paulo. E o vinho Presidente,
hoje não mais produzido, foi o vinho do Governo Getúlio Vargas. São 25 milhões
de litros produzidos anualmente. Os caminhos percorridos, por dentro da Salton,
nos levam a corredores decorados com anjos, cor e devoção. A música é sacra. Os
dois cálices dourados, lá expostos, lembram que quando os Papas Bento e
Francisco, estiveram no Brasil, beberam os vinhos da Salton. A réplica dos
cálices estão lá e seus desenhos falam do estilo de cada Pontífice. O cálice
usado pelo Papa Bento é pequeno, porém dourado e decorado externamente por
relevos. A do Papa Francisco, é lisa, simples, porém maior! Tudo é orgulho e
muita história para contar.
Provamos um dos ícones da Salton, o vinho
tinto Desejo, safra 2011. Depois o Talento, safra 2011. O Brut Evidence, alguns
sucos e a novidade, o Grape Tea. Deliciosos!
Nossa agenda, nos levava agora
para a deliciosa instalação rural, de onde tudo começou, para a Família da Dal
Pizzol, vinhos Finos. Ela está localizada na Rota Cantinas Históricas de Bento
Gonçalves. O museu, os antigos maquinários, os incríveis parreirais, desde o
primeiro formato, hoje carregados com a uva Goethe, até os mais diversos tipos
de uvas, ali plantados, gritam para mostrar, que no Brasil, tudo que se planta,
cresce e aparece. O amor pelo vinho e tudo o que ele encera, está em plantar
nessa imensa área verde, árvores como a “Quercus sp” ou Carvalho europeu. Dessa árvore, se faz os
barris de carvalho.
O dia de sol, a exuberância verde, os locais destinados,
para o doce deleite, dos pic nics com amigos e familiares, as casas baixinhas e
antigas, que renderam ótimas fotografias para as confreiras, tudo nos abraçou
de encanto. Entre outros exemplares da Dal Pizzol, provamos o vinho Do Lugar –
Cabernet Franc, safra 2014, o Ancellotta, safra 2014, o Espumante Rosé, fresco
na boca e muito agradável aos olhos.
À tarde, cheia de história,
encontro, gratidão e boas surpresas, veio com a visita a pequena, enxuta e
imperdível espaço de produção dos excelentes espumantes de Adolfo Lona. O método é o Charmat e o Tradicional, esse que
é utilizado na região de Champagne na França e conhecido como Champenoise. É o
método no qual a tomada de espuma e maturação é realizada na própria garrafa de
comercialização.
O processo artesanal de Adolfo Lona, permite produzir o espumante
Nature, Brut e o Orus, o único Nature Rosé do Brasil e com ciclo total de
produção de 24 meses. O espumante Orus Pas Rosé, é elaborado pelo método
tradicional, com ciclo de 24 meses, 12 maturando sobre as leveduras e 12
envelhecendo com a rolha definitiva, quando ganha sutileza e elegância. Três
variedades de uvas compõe esse belo exemplar: Pinot Noir, Chardonnay e uma
pequena parcela de Merlot. Os espumantes dessa casa, são na sua imensa maioria
comercializados em restaurante, especialmente na cidade do Rio de Janeiro,
Porto Alegre e em Curitiba, na loja de Luís Groff. O próprio Adolfo Lona, nos
deu uma aula sobre como abrir um espumante, sem fazer barulho, sem deixar a
bebida “nervosa”, apenas, por favor, deixe-a bem gelada! Adolfo
Lona, nos presenteou com uma pequena garrafa de espumante e um boné, com sua
logomarca. Foi um show!
Seguia a bela e quente tarde de
sol. Agora estávamos a caminho de vinícola Almaúnica, do Brasil com orgulho.
Nos esperava, sorridente e com os olhos mais vivos do planeta a Diretora da
vinícola Magda Brandelli Zandoná. Ela e seu irmão gêmeo Márcio Brandelli,
contam, para quem quiser ouvir a saga dos irmãos, que um dia resolveram fazer
as mesmas coisas que seus pais e irmãos mais velhos também fazem, produzir
vinho com muita paixão.
A Almaúnica, foi fundada em
08/08/2008, e se expressa produzindo garrafas limitadas de cada vinho tinto ou
branco e de seus belos espumantes, esses pelo método tradicional ou
Champenoise. O cenário criado pela vinícola,
aposta na qualidade total da atração. Assim seus espaços, internos são modernos
e cleans e estão em perfeita conjunção com os 3,0 hectares de vinhas onde as
pessoas que lá estiverem podem desfrutar, caminhando por toda a área plantada
de Cabernet Sauvignon, Merlot e Chardonnay. Tal poder de atração, aposta na
tipicidade de vendas da produção. A Almaúnica, aposta nas vendas diretas, sem
intermediários e parece, que a estratégia, não só dessa vinícola, está dando
certo. O casal de gêmeos, está feliz, fazendo o que mais gostam de fazer. Estar
nessa vinícola, com toda a energia linda da Magda, abrindo todas as garrafas
como se fossem troféus, foi muito agradável.
Jantamos na Casa di Paolo – Pipa
Pórtico, sempre levadas por Sandra Zottis, presidente da Confraria Feminina do Vinho de Curitiba, que não poderia nos deixar
sem provar o famoso e indiscutivelmente melhor galeto do mundo, que está no Rio
Grande do Sul.
Sábado, 18 de fevereiro, estamos a caminho da Chandon do Brasil (grupo LVMH) com sua exclusiva Chandon
Brasil em Garibaldi. Todo o charme, dessa casa francesa no Brasil, que só pela
sua existência, demonstra que sim, há valor nesse solo, que insiste em dar bons
frutos para raros espumantes. A casa, pertencente ao grupo Moet&Chandon, da região francesa de Champagne, não produz
fora da França, nada pelo método tradicional ou o champenoise. As garrafas
chamam a atenção pelos tamanhos variados, desde 187 ml, 375 ml, 750ml, a Magnum
com 1500ml, a Jeroboam 3000ml e o colors colletion, 1 - garrafa 750 ml + 2 taças coloridas. O tamanho jeroboam é aquele clássico tamanho,
estourado nos finais das corridas de Fórmula 1 e outros esportes igualmente
merecedores de tal acompanhamento.
Na Chandon, fomos muito bem recebidas e conduzidas por Rafael Smaniotto.
Seguimos agora para a vinícola
Angheben, um local completamente diferente, situada no Vale dos Vinhedos. Uma
família sorridente, nos recebeu para dizer entre outras coisas, que produz o
melhor vinho da região, porque produz as melhores uvas, as transforma em vinho
e depois comercializa para todo o Brasil. Aqui entre
as trocas de conhecimento, Sandra Zottis, voltou a enfatizar sua teoria de que os
vinhos tintos, deste estado merecem envelhecer, pelo menos cinco anos ou mais, para
depois abrir e assim, deixar o tempo fazer também a sua parte, a parte das
pazes com os aromas, sabores e todo o potencial que o vinho dessas terras pode
trazer. Nessa vinícola, todas as confreiras também conversaram entre si sobre,
as observações de que os espumantes são muito bons, os brancos são agradáveis e
os tintos são, na sua maioria, muito ácidos. As colocações são para tudo o que
já havíamos experimentados até aqui. A Angheben produz brancos,
Chardornnay. Vinhos tintos da uva
Barbera, Pinot Noir e Teroldego, dessa tiraram até as sementes, para compor
como elementos decorativo, das instalações. A produção varia bastante, porque
a Angheben, não tem compromisso com essas uvas, mas com as melhores produzidas
a cada ano, na região.
O
almoço, foi no Restaurante My Way, situado na Rua: Francisco Ferrari, bairro
Barracão. Coisas de Sandra Zottis, que conseguiu que Pai e filha, ambos “Chef”
abrissem seu restaurante e cozinhassem somente para nós. Um restaurante que
também é a casa dos moradores, que recebem seus clientes e amigos na ampla sala
ao lado da cozinha, de modo informal e filosófico, pois a casa é assim
decorada, com motivos de várias religiões e filosofias. Os pratos, preparados
desde a entrada até a salada, com muito sabor, cor, aroma, textura e o vinho
sempre presente.
Em mais uma exuberante tarde de
calor e muito sol, lá estávamos nós na vinícola familiar Cave Geisse, vinhedos de
terroir. No Brasil, terroir Pinto Bandeira
e no Chile terroir Marchigue.
Esta vinícola, produz espumantes
brancos e rosés. São nove variações sobre o mesmo tema, entre eles estão os do
tipo, brut, nature, rosé brut, blanc de blanc brut, blanc de noir brut, extra brut, terroir
nature e o terroir rosé. O método,
sempre o tradicional. Em parceria com a
família Dumont, produtores da região da Champagne, esta vinícola lançou o
primeiro Champagne com alma brasileira: Cave Geisse Philippe Dumont Premier
Cru, essa Champagne é produzido na
França. As uvas de toda essa seleção são Chardonnay e Pinot Noir.
O belo jardim da Cave Geisse, com cadeiras, bancos, pufs,
grama, árvores frondosas e flores, muitas flores, estavam à disposição para
quem dele quisesse usufruir no encontro consigo mesmo, com seu parceiro, amigos
e familiares, naquela deliciosa tarde de sábado. Um “truck” abastecia de
pequenos lanches, para aquela fominha de final de tarde, sempre acompanhado de
uma boa conversa, risadas e vinhos.
Domingo
pela manhã, dia 19, e o destino
agora era a vinícola Luiz Argenta em Flores da Cunha. Tudo impressiona lá. Os hectares
plantados, os tons de verde, a vista das sacadas das modernas instalações, arrasam
no visual.
Foi absolutamente delicioso estar desfrutando das instalações da
vinícola e do moderno restaurante Clô. As surpresas não pararam por aí. A
produção e as garrafas, com formatos absolutamente decorativos, desde os vinhos
e as taças, tudo é colocado para encantar e as confreiras adoraram, cada
detalhe. O almoço, com propostas de pratos muito interessantes, trouxe
surpresas como peixe da Amazônia, entre outras possibilidades gourmet. A
visita, por toda a vinícola ainda traria surpresas, como na arquitetura do
interior, cujo último piso, revelaria uma quantidade de pedras, nativas,
encontradas e que foram totalmente aproveitadas, nessas dependências. Assim, a
temperatura é mantida, por toda a cave, de modo natural. O teto, com grandes quadrados côncavos,
permitia experimentar a audição, do que se estava falando em qualquer ponto da
imensa sala de degustação e descanso da produção vitivinícola. O enólogo da
Luiz Argenta, mantem as garrafas ali, descansando ao som de belas músicas, como
quem embala a mais linda e rica criação, o Vinho! TimTim!!
Texto: Sueli Rita Floriani de Martínez
Fotos: Márcia Toccafondo